terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

7 de Setembro

7 de Setembro


... deslizou sobre a carne, deixando uma fenda que sangrava.

- Merda!
Não haviam outras palavras a se dizer além de palavrões.

- Porra!
A mão tremia, enquanto a faca foi largada em cima da mesa.A lâmina provou o sangue daquelas mãos delicadas.

- Faca filha-da-puta!

Claro que a culpa era da faca e não daquelas mãos inaptas e desacostumadas a cortar os bifes.
Um choro contido formou-se naqueles olhos verdes e sensuais.O corte ainda chorava suas lágrimas vermelhas.E quando o sangramento foi estancado por um cubo de gelo, o sentimento de culpa por ter dito aqueles palavrões a invadiu.O segundo pecado do dia, ela pensou, pois como ela aprendera na sua primeira eucaristia o pecado original sempre era o primeiro.

Não havia ninguém ali.Dera sorte, aquelas palavras foram pesadas. 8 pais-nossos, 16 ave-marias e 5 salve-rainhas, no mínimo seria sua penitência. Religiosa.

- Mas porque a desgraçada da empregada não veio.Logo numa segunda-feira.

Ela estava possessa. Bufando com aquele nariz pequeno e bonitinho.

- Rapariga!

A mão na testa, a que não estava cortada, demonstrava mais um arrependimento. Quantos mais ela teria naquele dia?
Olhou para o relógio.A preocupação com as horas a fez esquecer um pouco de suas imoralidades.
Já eram onze horas e seu marido ainda não havia acordado.Mas quando olhou para o calendário viu que era feriado. 7 de Setembro. Independência.

- Por isso aquela pu ... Ai!
A mão bateu no fogão. Logo a mão cortada.

- Fogão veado!
Hoje todo o seu repertório de palavrões está na ponta da língua.

A cozinha era espaçosa.Um fogão de seis bocas, dois armários de madeira de lei, uma geladeira larga, sempre cheia, no canto. A pia de mármore cinza, tão brilhante quanto os azulejos brancos da parede.Era um amplo espaço. Parecia impossível, mas ela esbarrou a mão cortada no fogão.

- Ai! Mer...

Um bocejo alto e demorado vindo do corredor censurou aquela vontade de desabafo. Ele acordou. O marido.

- Bom dia Amor!
A forte presença dele sempre a deixava mais consciente e contida.

- Bom dia o CARALHO!

Mas não hoje. No dia da independência.

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