terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dias miméticos.

Dias miméticos.

Amorfo viver, morto caminhar
Desatino excruciante de um dilacerante bocejo
Sono incômodo sobre os ombros
Engasgo matinal e frio
Tosse, escarro engolido sem querer.
Topada na calçada, dedos doloridos dentro do sapato.
A pasta de dente ainda com seu gosto amargo
O café que não sai do hálito
Um coçar nos olhos, noite insone
Condução, lata de sardinha humana
Luz incômoda nas pálpebras pesadas
Um empurra empurra, cinética popular
“Com licenças” retóricos,
Ar fumacento ao descer do transporte coletivo
E que coletividade (lotado!)
Checa os bolsos, intactos
Ergue a cabeça,
Avista todo o pesadelo que tivera na insone noite
A urbe abarrotada de sons
Alaridos comerciais rotineiros
“Borraaaacha pra panela de pressão!”
“CDVD, CDVD, CDVD”
“Desentupidor de Pia!”
Chuva! “Era só o que faltava! Droga”
Correria.
Toldos protetores abarrotados,
Lama nas calçadas, meia hora de chuva apenas;
Bueiros entupidos.
Novamente sol, e que sol.
Depois da tempestade vem o calor,
A bonança esqueceu de vir.
Poças d’água; água não, lama.
Podridão invasora das narinas,
Olfato maldito!
Quase escorrega ao atravessar a faixa de pedestres
Aquela tinta lisa já derrubou muitos esta manhã.
Enxuga a mala, esqueceu o guarda-chuva
Bem que a esposa falou...

“Parece até vidente mulher”
É o que diz quando chega em casa
E a beija com o beijo mais molhado que a chuva trouxe.

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