terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Paciência

Paciência

... estava no computador. Lendo poemas escritos por Nilto e a empregada vai varrer, passar o pano. Saio da frente do computador. Consciência. Ela vai começar o seu trabalho. E que paciência. Eu a vejo retirando uma à uma as cadeiras da sala de jantar, colocando-as na sala. Varrendo ainda. Ela comenta que ‘vai chover’, eu olho pra fora. Concordo. Mas não digo pra ela , não vou atrapalhar uma pessoa tão paciente. Escuto aqui da área ela com a vassoura, varrendo a poeira do piso, dos tapetes. Ela pára. Será que sabe que escrevo sobre ela? Silêncio. Ela acende a luz do quarto, vai varrer embaixo da cama. Ainda sem pressa ela continua. Varre de pés descalços pra saber aonde ainda tem poeira. Aqui da área não consigo vê-la, mas sei que o leve som de suas mãos estão organizando as coisas no quarto. Pronto. Organizou. Fechou a luz. Varrendo continua. A poeira pouco à pouco vai sendo levada. A sujeira. Que costumeiramente entram em nossas casas. Mas temos vassouras. A que ela usa está gasta. Compra-se outra. E ela ainda varre, está na cozinha tirando as cadeiras do lugar, reclamando algo em seu pensamento que daqui não consigo ‘escutar’. Enquanto escrevo apenas admiro a paciência desse ser humano notável. Mas é a ‘empregada’. Ah é? Nem me lembrava mais. Para mim é alguém tão capaz quanto Einstein, Bethoven ou Marx. Digo que ela é até melhor, sabe varrer com uma paciência genial. Ela limpa o chão que eu piso todo dia. Ela não é alguém digna de um conto, um capítulo ou de um livro? Acabou, não o conto, mas o varrer. Ela agora pega o balde, enche com água, pega o pano e o rodo. Agora ela vai lavar o piso alaranjado, meio desgastado, de minha casa. Lá vem ela. Sorri pra mim e começa. Molha o pano, torce o excesso de água, coloca-o no rodo e começa a limpar. Ver isso alivia meu espírito. Parece que não apenas o chão ela limpa, mas meu ser também se renova. Pra frente, pra trás, com esses simples e pacientes movimentos ela sabe que o chão ficará limpinho. Pronto. Terminou na sala. Molha o pano, repete o ritual de colocar o pano no rodo, antes é claro tira o excesso de água e vai para o meu quarto. Não a vejo, mas sei que ela está lá. Pacientemente pensando em algo que daqui novamente não consigo ‘escutar’. Ela afasta o balde, está aumentando o ritmo, mas ainda tem aquele semblante paciente no rosto que olha pro chão, procurando sujeira. Ela vai lá e limpa. “Vai chover”, ela disse momentos atrás, pois o céu está mudando mesmo. Chuva. Ainda não começou. Mas sabe aquela leve brisa que nos sussurra o momento? Terminou no meu quarto, ela está no quintal agora. Sei, pois não escuto nada de seus passos. Mas ela está lá, pacientemente jogando a água suja do balde no ralo. Vai limpar o pano na pia e estendê-lo para secar. Coloca o rodo onde sempre o deixa (atrás da porta da cozinha).Vira o balde e o deixa no quintal. Agora vai recolocar os tapetes, arrumar as cadeiras.Boceja. Daqui a vejo e bocejo em resposta, ela cansada de limpar, eu de escrever. Mas não é sono. Paciência de que a limpeza vai acabar e que a crônica terá o seu final. Mas antes que acabe gostaria de afirmar o que apenas tinha teorizado, ela é tão ou mais capaz que Einstein, Bethoven ou Marx. E merece sim um conto, um capítulo, um livro.

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