sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Pegadas

Pegadas


... corre! Mas não deixa pegadas. Tem os pés leves, quase sem peso. Encontra obstáculos.

- E daí, quem vai me achar? Não deixo pegadas. Não piso em falso. Corro. Com fé na velocidade que sei que tenho.

Depois de muito correr: cansaço.

- É, correr cansa.

Acorda, sonha, corre. Não gruda os olhos. Mantêm as pálpebras abertas. A linha de chegada está longe. Reza. Roga para que os pés agüentem a estrada aí a frente.

- Vão agüentar. Adoro tato, pé no chão. Pedra no caminho.

Não tropeça. Ou tropeça pra saber como é, mas se o faz não esquece de levantar, não fica no chão e não deixa pegadas.

- Sei. Só estou te testando; vendo se você consegue escrever sobre mim sem me influenciar.

Então você sabe que escrevo um conto sobre sua corrida?

- Desde o começo.

Então cuidado, mais na frente do conto vou colocar um vale pra lhe barrar o caminho, um riacho não tão profundo pra você atravessar.

- Pare!

O que foi?

- Não me conte meu destino, deixa que eu mesmo o traço.

Mas quem escreve sou eu, meu traço é seu passo; você é o personagem.

- Sou? Então porque não parei de correr ainda?

... muito bem, por mais que este conto acabe meu caro personagem corredor, não posso colocar um ponto final em suas atitudes de moldar seu próprio destino, por isso não vejo suas pegadas desde o começo, deve ter aprendido a fugir do escritor, da história. Vá! Corra e faça suas histórias, mas lembre-se de voltar para que eu as escreva.

- Não se preocupe escritor que me criou, sempre retornarei à ponta de sua caneta. Correndo sobre as linhas, pulando páginas, voando sobre capítulos, nadando nos versos, bebendo as letras, conversando em sua prosa, sentindo sua criatividade me recriar, mas não me siga. Não vou deixar pegadas.


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